segunda-feira, 18 de maio de 2009

Travessia do Parque Nacional do Caparaó


Conforme planejamos, fizemos nesse final de semana a travessia do PN Caparaó. Saímos de Belo Horizonte eu, Stela e Gislene às 9:30 da sexta-feira, 15 de maio. De cara atingimos o "crux" da viagem, a BR 381. Mal entramos na estrada e um engarrafamento nos esperava. Depois de uns 40 minutos parados, ao ouvirmos no rádio o aviso de que não haveria previsão de liberação da pista, resolvemos retornar e pegar um caminho alternativo passando por dentro de Sabará e Caeté.
Essa brincadeira nos atrasou em umas duas horas e chegamos em Alto Caparaó por volta das 15:30, onde nos encontramos com o Eustáquio. Após deixarmos o carro no estacionamento da portaria do parque, fomos ao encontro do senhor que, em uma camionete 4x4, nos levaria até a portaria da localidade Pedra Menina, que fica no Espírito Santo.

Depois de sacolejar bastante na carroceria, chegamos na portaria do parque e iniciamos a caminhada às 18:30. O primeiro trecho foi curto e grosso, 3 Km e um desnível de 500 m até a área de acampamento Macieira, que está a aproximadamente 1800 m. Logo no início do trajeto, relâmpagos e trovões anunciavam a chuva que não demorou muito a cair. Ensopados, chegamos na área de acampamento uma hora e meia depois de termos iniciado a subida. Por sorte, os vestiários do local pareciam ter acabado de serem limpos e ninguém os havia usado após o trato. Não pensamos duas vezes e resolvemos dormir ali, assim não teríamos que montar as barracas com chuva e, melhor ainda, não precisaríamos carregá-las molhadas no dia seguinte. Com as suítes ajeitadas, preparamos o jantar: arroz carreteiro, salada de cenoura e feijoada. Fazia parte do cardápio um queijo parmesão, mas como o gosto estava muito suspeito, preferimos não comer, pois uma diarréia ou outro tipo de problema gastrintestinal não era algo desejável para nosso passeio. Até a hora de ir dormir conversamos sobre a empreitada do dia seguinte, planos para viagens futuras e fomos dormir.
Acordamos por voltas das 6:00 para preparar as mochilas e café da manhã. A chuva que nos acompanhara pela noite havia nos deixado, mas as nuvens continuavam bem carregadas e prontas para cair a qualquer momento. Iniciamos a jornada, que mais tarde se mostraria árdua, às 8:00. Nosso plano era chegar ao acampamento Terreirão e, se estivéssemos em boa forma e com tempo, desceríamos para portaria de Alto Caparaó (~1250 m), caso contrário, acamparíamos ali para descer no dia seguinte.

Saindo do acampamento Macieira, o ponto de referência seguinte é o acampamento Casa Queimada (2160 m), o percurso de 5 km é feito por uma estradinha. Como a Casa Queimada, segundo os guardas do parque, é o último ponto garantido para se abastecer de água até a base do Pico da Bandeira (2892 m), paramos uns 30 minutos para encher os reservatórios, comer uns biscoitos e fazer os primeiros prognósticos sobre o tempo que levaríamos para percorrer todo o trajeto. Concluímos que fizemos o percurso de 5 km em um ritmo bom, pois gastamos apenas uma hora e meia para percorrê-lo. Dessa forma, estimamos que chegaríamos ao pico por volta das 14:00 e que, provavelmente, até às 20:00 estaríamos na portaria mineira do parque. Saímos da Casa Queimada as 10:00. Após uma hora de caminhada e o primeiro trecho íngreme, sentimos a necessidade de nos abrigar mais, pois chegamos a uma área descampada onde o vento forte e a neblina começaram nos açoitar com o frio. O percurso desse ponto até a crista, que à esquerda leva ao pico do Cristal (2770 m) e à direita ao pico da Bandeira, é basicamente sobre pedra e é bastante íngreme. No dia anterior havíamos pensado em passar pelo pico do Cristal caso o tempo estivesse bom, mas com a neblina nem cogitamos essa possibilidade, pois já havíamos estado em seu cume há dois anos, com neblina, então a paisagem era mais do que conhecida.

É impressionante como a baixa temperatura suga nossa energia. Pelo menos para mim, o trecho mais puxado da travessia foi desde o platô onde iniciou vento forte, até o cume do pico do Calçado (2768 m), que é alcançado antes de se chegar ao pico da Bandeira. Às 12:00, quando chegamos ao cume do pico do Calçado, o termômetro marcava 0 grau Celsius. Ventava forte a ponto de nos balançar e, dependendo do jeito que a rajada pegava lateralmente na mochila, acredito que daria para derrubar uma pessoa descuidada. Não saberia precisar a velocidade do vento, mas com certeza a sensação térmica era de temperatura negativa.

Encontramos um ponto abrigado do vento e fizemos um lanche para recarregar as baterias antes de chegar ao cume do Bandeira. Energia recobrada, seguimos a trilha e chegamos ao cume do Bandeira às 13:10. Ventava bastante, mas não estava forte como no Calçado. Por entre alguns blocos de pedra montamos o fogareiro e preparamos o “chá de cume” para nos aquecer um pouco, gostamos tanto que vamos tentar manter esse hábito em nossas caminhadas. Descansamos um pouco, curtimos o chá e a alva paisagem e, às 14:00, iniciamos a descida pela pedregosa trilha que nos leva ao Terreirão (2400 m), onde chegamos às 16:00 e paramos por uns 15 minutos para ir ao banheiro e lambiscar alguma coisa. Dali, seguimos por uma hora e meia os 4,5 km que levam ao acampamento Tronqueira, que fica a 1970 m, onde termina a trilha. Desse ponto em diante, segue-se por uma estradinha bastante íngreme em vários trechos, até a portaria do parque. Mesmo sendo por estrada, após o dia todo caminhando, a descida até a portaria não é fácil. Saímos do Tronqueira um pouco antes do lusco-fusco e rapidamente houve a necessidade de usar a lanterna. Na medida em que descíamos, os joelhos da maioria do grupo davam sinal de sua existência, mas nem por isso deixamos de apreciar o céu estrelado. Entre um assunto e outro observávamos os pontos iluminados ao longe e bem abaixo de nós. Aos poucos, as montanhas que pareciam pequenas ante a altura que estávamos se tornavam mais altas e as luzes mais próximas. Às 19:15, depois de ter caminhado 25 km desde o acampamento Macieira, chegamos no estacionamento da portaria mineira do parque. Fizemos a tradicional foto, passamos na portaria para registrar nossa chegada e ouvir o guarda avisar aos seus colegas da portaria de Pedra Menina que o grupo que havia iniciado a travessia acabara de chegar sem nenhum problema. Seguimos para pousada e, após um merecido banho, fomos jantar e celebrar o objetivo cumprido.

Nessa mesma noite encontramos o Christian, meu irmão, que estava em Alto Caparaó há alguns dias fazendo suas primeiras incursões nas montanhas e que voltaria de carona conosco. Fico muito contente ao ver isso, pois são poucos os iniciantes que têm disposição para fazer caminhadas e acampamentos sozinhos. À maneira dele, apenas com as informações que colheu, conseguiu cumprir seus objetivos e adquiriu por mérito próprio experiências que servirão de trampolim para novos passeios.



No domingo, dia 17, após o café da manhã, juntamos nossas tralhas e retornamos a Belo Horizonte. Ao invés de fazer toda viagem de volta pela precária BR-381, que sempre nos presenteia com engarrafamentos quilométricos na chegada de BH, por sugestão do Eustáquio, passamos pela MG-262 fazendo o percurso Ponte Nova - Ouro Preto - Belo Horizonte. A entrada para Ponte Nova fica logo após o posto da Polícia Rodoviária Federal da cidade de Rio Casca. A viagem por esse caminho foi super tranqüila e a estrada, apesar de pequena, está em boas condições.



Agora é planejar a próxima investida.

6 comentários:

  1. Christian Perdigão19 de maio de 2009 às 00:41

    Obrigado Max! Graças a Deus e com mt força de vontande, consegui alcançar meus objetivos nesta viagem. E td com calma e sem correr riscos desnecessários. E com certeza vou continuar a fazer estas pequenas aventuras. Gostaria de deixar tmb meus parabéns p vc, Stela, Gislene e o Eustáquio pela travessia do PN Caparaó. E que venha outras caminhadas... P que vcs cheguem em Huayhuash afiados! Abs.

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  2. Parabéns pessoal, puxa vida, deve ser bom demais esse tipo de aventura, simplesmente maravilhoso e estou aqui sempre dando uma olhadinha e babando nas fotos
    Abraços para Max, Stela e Fofão.

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  3. Brunão, vc tem que deixar de ir para praia nas férias e procurar as montanhas... Abraço :)

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  4. É isso aí Max, essa caminhada foi muito boa. Tirando pelos meus joelhos, estou doida pra repetir.
    abraços.
    Gi

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  5. Irmão, gostei muito de teu blog e das fotos. Já fui a Caparaó regressando de uma longa viagem de moto, mas não deu para tentar subir. Queria te perguntar umas coisas. Desculpe, entenderei se não puder ou tiver tempo para responder todas. 1) É seguro deixar automóvel, no meu caso, moto na portaria do Parque?; 2)é permitido montar acampamento em outros trechos que não os já determinados como macieira ou casa queimada? 3)Agora após agosto, quando o clima é mais quente, até dezembro é boa ocasião para se ir por lá?. abs, Nilson

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  6. Oi Nilson, obrigado pela visita. Vamos por partes:
    1) não é a primeira vez que deixamos o carro estacionado na portaria e nunca tivemos problema. No caso da moto, pode ser que conversando seja possível deixá-la próximo ao local onde os guardas ficam, pois é mais movimentado que o estacionamento;
    2) Pelas regras do parque é possível acampar somente nos locais por eles determinadados;
    3) segundo disseram ao meu irmão, o melhor mês para visitar é agosto, pois está um pouco mais quente, fica vazio e normalmente não chove.
    Esse lance da chuva é difícil, pois lá o tempo muda muito rápido. Sugiro ligar para o parque e perguntar o pessoal. Das vezes que precisei pegar informação por telefone eles foram bem solícitos. Abs e volte sempre, MAX.

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