sábado, 28 de dezembro de 2013

Cordilheira Huayhuash (Uaiuachi)

Localizada entre Lima e Huaraz, um pouco ao sul da famosa cordilheira Blanca no Peru, a cordilheira Huayhuash é provavelmente um dos lugares mais bonitos que eu já tenha pisado. Sempre digo que cada lugar tem sua beleza e suas particularidades, mas é difícil não encará-la como um lugar que merece destaque.
Trajeto aproximado da caminhada com os acampamentos e passos. Clique aqui para fazer o download do arquivo e visualizar melhor no Google Earth
Estive por aquelas bandas em julho de 2009, juntamente com a Stela e um casal de amigos: Gislene e Eustáquio. Tomei conhecimento da região através de outro amigo de caminhadas, o Deba, que, com um enorme entusiasmo, falava dessa travessia de 10 dias em altitude superior a 4.000 metros, chegando, por vezes, a mais de 5.000 m. Quando começamos a pesquisar, era evidente em todos os relatos a questão da beleza e da dificuldade, pois essa travessia, de aproximadamente 180 km, é considerada uma das mais difíceis do mundo, até mais do que várias caminhadas famosas da região do Himalaia.
 Região central de Huaraz
Região central de Huaraz
Periferia de Huaraz
Tendo isso em mente, fizemos uma preparação física de aproximadamente dois meses, seja pela questão de fadiga muscular que pela preparação cardiorrespiratória, para encarar a longa caminhada e a altitude bem acima do que estamos acostumados. Daqui, fizemos também uma pesquisa sobre como iríamos fazer a caminhada. Era unânime entre os relatos que, por questões de segurança (inclusive de roubo), era necessário ser acompanhado por um guia local. Embora esse não seja o perfil de viagem que gostamos de fazer, no final das contas acabamos contratando uma empresa e fomos em um grupo de onze pessoas: além de nós, dois rapazes de Curitiba, um casal de espanhóis, um casal de noruegueses e um rapaz inglês.

O ponto de partida para quem deseja fazer essa caminhada é a cidade de Huaraz, considerada a capital da cordilheira Blanca e que fica a aproximadamente 400 km ao norte Lima, numa altitude de 3.000 m. Além de ser a maior cidade da região e com a melhor infraestrutura para os preparativos da jornada, a altitude e a proximidade de outros pontos acima de 4.000 m são essenciais para aclimatação. Ficamos por ali uns 3 dias para acostumar com a altitude e fizemos duas caminhadas de aclimatação, uma até a lagoa Churup (4.450 m) e outra até a lagoa Llaca (4.600 m). Estava também em nossa programação de aclimatação uma ida ao glaciar Pastoruri, mas devido a manifestações e greves dos camponeses da região, que estavam fechando as estradas, não foi possível fazer essa visita. Na verdade, chegamos a correr o risco de não poder fazer muita coisa por lá.
 Subida para lagoa Churup
 Lagoa Churup
 Caminhada pela moraina da lagoa Llaca
Parte da lagoa Llaca com o glaciar e a montanha Ocshapalca (5.888 m) ao fundo
Tendo tudo acertado com a empresa encarregada pela travessia, seguimos em uma van até o pequeno povoado de Pocpa, entrada da cordilheira Huayhuash, e de lá até o acampamento Matacancha a 4.200 m, a partir de onde começaríamos nossa jornada acima dos 4.000 m. Quando se sai da carretera 3N para pegar a estrada de terra em direção à Chiquián é possível avistar, ao fundo, a cordilheira Huayhuash. Acredito que essa seja a primeira vista que temos dela e a visão é realmente esplendida. A estrada é assustadora, um sobe e desce em meio a curvas apertadas e precipícios, mas a paisagem é linda e nos faz esquecer esse perrengue.

Terraços para plantação, paisagem típica entre a carretera 3N e Pocpa
Centro de Chiquián
Já no primeiro dia começamos a ter um desgaste com a empresa que contratamos, a Galaxia Expeditions (não quero fazer desse texto um mar de lamentações e não vou entrar em detalhes, mas não poderei deixar de citar, em alguns momentos, os problemas que tivemos com essa empresa, a qual não recomendo). Quando conversamos com os proprietários dessa empresa desde o Brasil, assim como em Huaraz, ficou bem claro que seria um guia para cada oitos pessoas e que, como no grupo haviam onze, seriam dois guias. Quando chegamos em Matacancha e começamos a conversar com o pessoal da empresa, vimos que só tinha um guia. Notamos também uma falta de organização em relação ao que havia sido combinado em Huaraz e o que havia sido planejado pelo guia, Eric, que nos aguardava nesse acampamento. A infraestrutura física era simples, porém boa. Havia uma barraca refeitório, uma barraca cozinha e cada casal ou indivíduo tinha sua barraca, por sinal nova. Durante a caminhada carregamos apenas uma mochila de ataque com lanche, água e roupa de frio. Nos foi emprestado uma bolsa grande de cordura para colocar coisas pessoais como saco de dormir, colchonetes, isolantes, roupas, etc. Tudo isso era despachado em mulas.
 Acampamento Matacancha
 Mulas nos ultrapassando na subida em direção ao passo Cacananpunta
 Passo Cacananpunta
Morro abaixo rumo à lagoa Mitucocha
Passamos a primeira noite acima de 4.000 m e, no dia seguinte, iniciamos de fato a nossa caminhada por esse pequeno paraíso dos Andes. O objetivo era atravessar o passo Cacananpunta (4.690 m) e seguir até a lagoa Mitucocha (4.270 m). Subimos bem devagar por, aproximadamente, 2:30 h até o passo, uma crista estreita de rocha escura, de onde era possível avistar de um lado o acampamento da noite anterior e, do outro, uma trilha que descia serpenteando com um grande afloramento de água enferrujada ao fundo. Nesse dia, caminhamos até as 14:00 h. Fizemos um lanche e fomos do acampamento até a lagoa que dá nome à área.

Durante a primeira noite, passamos bastante mal com diarreia. Inicialmente, fiquei cismado com a comida, mas depois fiquei sabendo que era por causa da altitude. Embora não tivéssemos passado mal nos dias anteriores, dessa vez foi diferente, porque, além de dormir em um local mais alto, havíamos feito algum esforço em razão da caminhada. Como tudo tem o lado bom, ao levantar de madrugada para ir ao banheiro, deparamos com um céu como nunca havia vido antes, algo para ficar de queixo caído. Nesse dia, descobri que as madrugadas seriam tão lindas quanto os dias que estavam por vir.
Já pela manhã, ao observar o termômetro que havia deixado fora da barraca, constatei a mínima de –15o C, razão pela qual havia placa de gelo grudada no interior do teto da barraca (condensação que congelou) e o sobre-teto da barraca estava congelado. Nessa hora a gente sente a diferença que faz estar bem equipado, pois em nenhum momento passamos frio.
 Uma surpresa em cada "esquina"...
 ...e a cada madrugada
 Manhã após noite gelada
Nuvem orográfica (aprendi com o Ivan Salomão)
Nesse dia, principalmente por causa da diarréia, fomos arrastando atrás do grupo. O cansaço era grande e por termos alimentado pouco, nos sentíamos fracos também. O Eric, apesar do problemas que tivemos com a empresa, foi um ótimo guia. Pessoa super tranquila, simpática e grande conhecedor daquelas terras por onde pisávamos. A caminhada seria pelo roteiro comum, através do vale Wayac, passo Carhuac (4.630 m) e depois uma descida pelo vale Yanayana até a lagoa Carhuacocha (4.138 m).
Como o tempo estava lindo, céu azul, o Eric resolveu fazer outro caminho. Saindo do acampamento, ao invés de seguir pelo vale, subimos pela direita até a crista de uma serra paralela à lagoa Mitucocha. Ao chegar na crista, o Eric nos pediu silêncio em respeito às montanhas que ali estavam, e foi tocando uma flauta “mágica” até atingirmos um passo de 4.740 m próximo à lagoa Alcaycocha. Foi um momento emocionante para várias pessoas do grupo. Dessa crista se avistavam os picos: Yerupajá Chico (6.089 m), Jirishanca (6.094 m) e Yerupajá (6.617 m), dentre outras montanhas menores, mas nem por isso menos majestosas.
 Eric e sua flauta "mágica"
Chegada na lagoa Carhuacocha
Da lagoa Alcaycocha, descemos até a parte alta da lagoa Carhuacocha, onde acampamos. Uma coisa que me marcou bastante em Huayhuash foi a surpresa que a região proporciona a cada “esquina” que a gente vira. É sair de um vale para outro e não tem como não ficar de boca aberta com a paisagem, seja pela beleza que pela falta de ar… A chegada nessa lagoa de cor verde jade é algo espetacular, pois ao fundo se descortina as beldades de Huayhuash: Jirishanca, Yerupajá Chico, Yerupajá e o Siula Grande (6.344 m), do filme “Touching the Void”. Durante a noite, a surpresa foi a mesma da anterior, ao sair para o pipi da madrugada… aquele céu maravilhoso.
 Construção em adobe (lagoa Carhuacocha)
Acampamento (lagoa Carhuacocha)
Hora do pipi
No dia seguinte, seguimos rumo ao 4o acampamento. Descemos a encosta e contornamos o lago pela esquerda para entrar em um vale com três lagoas: Gangrajanca (4.250 m), Siulá (4.290 m) e Quesillococha (4.332 m). Nesse dia já estávamos nos sentindo melhor, mas, no meu caso, o cansaço pela altitude continuava. Eu não posso dizer que estava passando mal, pois não tive dor de cabeça em nenhum momento e nem cansaço muscular, só faltava um pouco de ar nas subidas. Mas, estando lá em cima, me recuperava muito rápido e, para descer, era moleza, algo que para muitos era um problema por causa dos joelhos. Nesse dia, subimos uma moraina para avistar a lagoa Siulá e paramos em uma encosta bem acima da lagoa Quesillococha para lanchar. Dali, seguimos para o passo Siulá (4.830 m) e descemos até uma fazenda, no local que se chama Huayhuash. Acampamos dentro de um cercado de pedras, que são currais de ovelhas.
Durante a caminhada pudemos observar outros dois grupos bem pequenos. Essa é uma da melhores coisas nessa caminhada, pelo menos demos sorte do caminho estar bem vazio.

 Caminhando sobre o trecho de um rio que foi soterrado por um desmoronamento
Parada para lanche (lagoa Quesillococha e lagoa Siulá)
 Chegada em Huayhuash
 Acampamento Huayhuash
Na manhã seguinte a esse acampamento, o dia amanheceu fechado. Saímos cedo em direção a um acampamento com piscinas de águas termais, onde tomaríamos o nosso primeiro e último banho durante a travessia… Logo depois de iniciarmos a caminhar, começou uma chuvinha e, na medida que ganhamos altitude, começou a nevar. Quando chegamos no passo Portachuelo (4.780 m) já estava tudo branco. Depois, na medida que iniciamos a descida rumo à lagoa Viconga (4.453 m), chuva e neve foram se revezando. Esse foi o único dia que pegamos tempo ruim. Mesmo assim, durante a descida, à esquerda da trilha era possível avistar a quase intocada por caminhantes, cordilheira Raura. Chegamos cansados na lagoa Viconga, que abastece uma usina hidrelétrica, pois andar na chuva é bem chato. Desse ponto até as termas é uma descida relativamente curta, porém íngreme e cansativa. Ao chegar na piscina de água quente foi a festa para tomar banho. Ali passamos o resto do dia relaxando, alguns aproveitaram até para beber cerveja.
Nessa noite tivemos uma conversa séria com o Eric sobre a quantidade de comida que estavam servindo, estava muito pouco e ninguém estava satisfeito. Como o Eustáquio já havia passado perrengue com escassez de comida em outra ocasião (na Bolívia) e ficamos com o pé atrás em relação à qualidade da comida que nos seria servida, havíamos nos precavido e levado sopa instantânea e outras coisas, além do nosso próprio fogareiro. Assim, sempre que chegávamos em um acampamento, preparávamos nossa gororoba para forrar o estômago. Isso ajudou muito.
 Chegando no passo Portachuelo
 Pastores de ovelhas
 Lagoa Viconga
Pedágio para entrar na área após a lagoa Viconga
Sopão para forrar o estômago. Aproveitando o calor para secar o equipo...
Manhã fria com tudo congelado, mas o céu estava 100% azul. Seguimos a trilha congelada e escorregadia em direção ao passo Cuyoc (5.050 m), ponto mais alto da caminhada. Acredito que, além do desnível, essa tenha sido uma das subidas mais íngremes. Mesmo assim, apesar da minha lerdeza em subidas, e das constantes paradas para fotografar, chegamos no passo 30 minutos depois da turma que anda mais forte. Esse desgaste em subidas normalmente acontece até aqui, tenho a impressão de que sofro muito com o calor e isso me desgasta muito. Acho que vim ao mundo com um radiador subdimensionado.
Lá de cima se avista bem de perto o pico Cuyoc (5.550 m) e outros picos mais altos e ao fundo como o Trapecio (5.653 m) e Santo Antonio (5.079 m), dentre outros. A descida até o vale do acampamento Elefante, como sempre, maltrata os joelhos da maioria. Acho que essa era a única parte tranquila para mim, pois meus joelhos não costumam me incomodar. Depois da reclamação da noite anterior, nessa eles capricharam mais no jantar, teve até pipoca na hora que chegamos.
 Preparando para sair na manhã gelada
 À direita, o pico Cuyoc que da nome ao passo
Cordilheira Raura, vizinha à Huayhuash
 Descida após o passo Cuyoc, ao fundo o Siulá grande
Passo Cuyoc após sua transposição
 Ajeitando o acampamento. Destaque para o jantar vagando entre as bagagens
Cuyoc visto do acampamento Elefante ao entardecer
No dia seguinte encaramos o trecho que talvez tenha sido o mais pesado do trajeto. Saímos do acampamento a 4.490 m e seguimos rumo ao passo Santo Antonio (5.020 m). Depois de subir por uma encosta até um platô a 4.800 m, ascende-se por uma canaleta de terra e cascalho por uma trilha em zigue-zague até o passo. Essa foi a subida que fui no ritmo de um pé após o outro, pois não estava rendendo nada. Chegando ao passo, felizmente a recuperação foi rápida e era possível subir nas pedras e caminhar para todos os lados e alimentar a visão com paisagens estupendas. Parece exagero, mas a natureza se esmerou para criar aquele lugar. Do passo Santo Antonio se avista as lagoas Juraucocha (4.343 m), Santa Rosa e Sarapococha (4.482 m). Além das lagoas, avista-se novamente o Yerupajá, o Siula Grande, o vale Sarapococha (onde os personagens do filme “Touching the Void” acamparam).
Nesse momento da caminhada houve outro estresse. Um dos rapazes de Curitiba havia acertado com a empresa um determinado caminho a partir do passo Santo Antonio, se não me engano, um lugar chamado Mirador Santo Antonio. Eu não entendi direito, mas parece que tem uma vista mais bonita do vale e a trilha é bem mais bonita também. A razão que levou o Eric a decidir não passar por esse lugar foi devido ao grau de periculosidade e ele primou pela segurança. Outro detalhe importante que o levou a tomar essa decisão foi o fato da moça da Noruega ter torcido o pé no dia que estávamos descendo para Huayhuash (onde acampamos nos cercados de pedra), foi necessário inclusive ter que buscar um cavalo para que ela chegasse ao acampamento. Nesse ponto, vale voltar a um problema citado no início: o número de guias. Se tivéssemos dois guias, conforme combinado, o grupo seria dividido e cada parte faria um caminho. Como pisaram na bola, o Eric optou pela via mais segura.
 À direita, visto do platô, o acampamento. À esquerda, acima da sombra, o passo Cuyoc
 Tomando muito fôlego para chegar ao passo Santo Antonio (à direita).
 Passo Santo Antonio. À esquerda, Eric ajoelhado tocando sua flauta
 Vista do passo Santo Antonio. Destaque para o Yerupajá e o Siulá Grande
 Lagoa Juraucocha 
 Descidas monumentais no cascalho
"Toca pra baixo"
Voltando à caminhada, do passo Santo Antonio descemos por uma encosta de cascalho até a área de acampamento Cutatambo (4.265 m) localizada na base da moraina da lagoa Juraucocha - onde não acampamos, e seguimos pelo vale do rio Calinca até o vilarejo Huayllapa (3.490 m), foi o único momento abaixo dos 4.000 m. O acampamento foi montado em um campo de futebol com uma estrutura muito ruim. Os banheiros eram horríveis e não havia água direito. Para ser sincero, os acampamentos selvagens estavam muito mais confortáveis. Segundo o pessoal, a parada na vila foi necessária para o reabastecimento de provimentos. Eu aconselho para quem for fazer essa travessia, combinar antes com o guia ou empresa para acampar um pouco antes da vila em uma área chamada Auquimarca. É um lugar que não fica ruim para eles reabastecerem e, de certa forma, mantém-se a natureza do passeio. A única coisa boa em Huayllapa foi pode tomar uma Inkacola em uma vendinha.
Parada para lanche no acampamento Cutatambo
 Rio Calinca. A lagoa Juraucocha está no alto da moraina à direita da foto
Cachoeira durante a descida para Huayllapa
Huayllapa
A saída de Huayllapa foi para arrebentar. Lembram dos 3.490 m? Saímos dali para o passo Tapush (4.770 m), 1.280 m de desnível… em cinco horas de caminhada. Antes do ataque final ao passo, o pessoal parou para lanchar em uma ruína Inca. Eu já havia notado que não estava me fazendo bem o lanche pesado e logo depois encarar uma caminhada pesada. Então decidi com a Stela continuarmos a subida sem o pessoal, apenas com algumas barrinhas e alguma fruta e deixar para lanchar lá no alto. Foi a melhor coisa que fizemos e até hoje adoto essa estratégia de comer pouco antes das caminhadas e ir comendo algo que queime rápido durante a atividade. Com isso me sinto bem melhor.
O passo Tapush foi o único que deixou a desejar em termos de visual. Aliás, a subida até ele, além de pesada, não teve nenhum visual que pagasse o esforço. Esse passo é também o ponto de saída para quem pretende escalar o pico Diablo Mudo (5.350 m). Quando lá chegamos, foi possível notar vários pontos de prospecção mineral. Não sei qual é a situação hoje, mas fomos informados de que não seria mais possível escalar esse pico depois que começassem a exploração. Do passo Santo Antonio chegamos a avistar também um container-alojamento de pessoal que estava trabalhando na região. Tempos depois de termos feito essa caminhada, ouvi dizer que estava acontecendo uma briga enorme naquela região entre os camponeses e as mineradoras. Pelo que li, parece que, se a mineração for implementada, grande parte da travessia será comprometida, isso sem contar os problemas que serão gerados para o pessoal da região.
Desse passo descemos até o vale Angocancha e acampamos a 4.450 m. Novamente ficamos em um lugar protegidos por um curral de pedras no final do vale, como se fosse um anfiteatro. Apesar do lugar ser bem protegido, foi uma noite bem fria. As barracas amanheceram congeladas e a trilha que encaramos no dia seguinte também estava bem escorregadia por causa do gelo. Nesse dia, compramos uma ovelha para o jantar da noite seguinte, que seria a última da travessia. O pessoal ia preparar de acordo com a tradição local, como faziam a oferenda à Pachamama, assando a ovelha em um buraco cavado no solo.
Crianças em uma viela de Huayllapa
Acampamento no vale Angocancha
Yerupajá visto do passo Llaucha
Descendo para o lago Jahuacocha

Subimos até o passo Llaucha (4.850 m) de onde avistamos novamente a cadeia formada pelo Yerupajá, Jirishanca, Rondoy e Ninashanca. Dali, descemos a 4.050 m para acampar próximo ao lago Jahuacocha. A descida, apesar de longa, já não era tão abrupta como as anteriores. Começamos a entrar em uma altitude onde as ovelhas davam lugar às vacas. Apesar de nunca ter ido aos Alpes Suíços, essa era a impressão que tinha com aquela paisagem bucólica com campos floridos em um vale bem aberto, montanhas nevadas ao fundo e vacas pastando. Assim que chegamos na área de acampamento montamos nossa barraca com a porta direcionada para o Jirishanca e aproveitamos para descansar e colocar os sacos de dormir para tomar sol. Foi a única área de acampamento onde vimos vários grupos. Acredito que isso seja pela proximidade à Llamac, lugarejo próximo a Pocpa, onde passamos no início da viagem. Nessa tarde, depois de que já havíamos arrumado nosso acampamento, fomos acompanhar a preparação da ovelha. O pessoal cavou o buraco e ao lado fizeram uma espécie de forno com pedras e acenderam uma fogueira dentro. Depois que as pedras estavam aquecidas, o buraco foi forrado com elas. Junto com a carne foram colocadas batatas. Novamente foram colocadas outras pedras por cima e depois tudo foi coberto com sacos, vegetação e tudo foi coberto com terra. Depois ficou um tempo assando e pronto. Resultado: carne dura, seca e com areia… Achei melhor a batata.
 Gado apreciando o pico Rasac
Feng shui no acampamento... porta da barraca apontada para o Jirishanca (rs)
 Enquanto aquece as pedras para a Pachamama, truta sendo fritada
Carne da ovelha sobre as pedras aquecidas
 Terra e vegetação em cima
Retirada do jantar
O último dia foi apenas descida. Seguimos o rio Jahuacocha e depois fomos acompanhando o que parecia já ter sido uma estradinha ou caminho para aqueduto, não lembro direito. Caminhada bem monótona já que as montanhas mais altas estavam ficando nas nossas costas. Nesse ponto, acredito eu, como sabemos que está no final da empreitada, o corpo vai relaxando e o cansaço e a ansiedade de chegar vão tomando conta. Depois de 4:30 h e 800 metros mais embaixo, chegamos em Llamac (3.250 m), uma vilazinha com construções predominantemente em adobe. Ficamos um tempo por ali até a van ser carregada e retornamos a Huaraz pelo mesmo caminho. Na subida da serra em direção à carretera 3N, olhamos para trás e vimos o céu desabar em Huayhuash. Tivemos muita sorte, pois numa empreitada grande como essa, o tempo foi nosso companheiro!
 Casa dos moradores do lago Jahuacocha
 
 Início da caminhada rumo a Llamac, o lago Jahuacocha fica atrás da moraina
 Chegando em Llamac, caminho entre os terraços de plantio
Ao fundo, a cordilheira Huayhuash coberta pela tempestade
No início no texto citei o circuito Huayhuash como sendo de 180 km. Na verdade existem vários caminhos que possibilitam criar um circuito personalizado, podendo a travessia chegar a 15 dias. Desde o primeiro dia da caminhada, pelo horário que saíamos e chegávamos nos acampamentos, desconfiamos de que não teria como percorrer essa distância no número de dias que fizemos. Como o Google Earth está com as imagens melhores, fiz uma estimativa e acredito que o trajeto que fizemos tem aproximadamente 130 km.
Depois de Huaraz seguimos como turistas bem comportados para Lima, Cuzco, Vale Sagrado, Matchu Pitchu, etc. Mas esse assunto ficará para outra publicação, espero que não leve mais quatro anos…

2 comentários:

  1. Max, obrigada pelos relatos tão bem descritos e hora emocionantes, hora engraçados....As fotos então....lindas ...lindas, só pra variar um pouquinho...rs
    Abraço,
    Leninha

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